sexta-feira, novembro 13, 2015

O Inimigo

O pior inimigo do Homem é o homem.
Prova disso é  a recente crise de refugiados, sobe a qual já  quase tudo foi dito e infelizmente ainda foi feito tão pouco.
E não pesemos que é um fenómeno isolado. Não. É só mais uma das muitas que o homem tem provocado.
Enquanto o modelo de desenvolvimento não for revertido o homem continuará de crise em crise até à crise final (ou dito de outro modo, de vitória em vitória até à derrota final.


Sobre o assunto e não só, deixo algumas ideias soltas e uma inquietação.


Ideia. O espectáculo
Num mundo tão mediatizado tudo é espectáculo. Em tempo real. E este é dos bons porque é continuo. Não precisamos de esforços adicionais para o mostrar porque ele está sempre lá. Como diria um comentador de serviço felizmente não falta assunto para comentar-
A questão é que não se trata de um espectáculo e nem sequer é recente.
Recente só a forma que remete para o total desespero mostrando o der humano numa condição de todo inqualificável.
É miséria humana de inocentes explorados até ao limite extremo por um modelo de desenvolvimento insensível e sem rosto.
E é ver todos os dias, a todas as horas  as filas intermináveis de homens, mulheres e crianças a caminhar para lado nenhum.
É ouvir todos os dias os doutos sabedores de todas as coisas, que todos os dias arengam os ditos do costume, todos sentados à mesa da abundancia, incapazes de compreender que para o sofrimento extremo as palavras deixaram de fazer sentido e aqueles que sofrem já nada têm a perder.


Ideia. O drama.
Mas não esqueçamos nunca que por detrás de um enorme mento de cumplicidade, muitas vezes encoberta, estão os contornos de uma anunciada tragédia à escala global.


Ideia. A hipocrisia.
É triste constactar que ao fim de tantos séculos de civilização e com tantos males que o afligem, o mal maior é sempre aquele provocado pelo próprio homem.
Dos quais a guerra é o mais absurdo.
E o mais hipócrita.
Aqueles que hoje mais a condenam são aqueles que fornecem os meios.
Enquanto o armamento  for um dos principais negócio à escala mundial, as guerras continuarão a existir, pois  não se espere que quem compra armas as coloque no jardim como adorno.
Sendo que por vezes a venda de armamento como bónus já inclui a oferta de uma guerra à medida.  
Mas haja Deus! Um país fica com 8 refugiados, outro com 27, outro com... a resposta é de tal modo pronta que já só falta acolher 2 milhões de refugiados.
Por pudor não digo o que parece esta espécie de leilão, este sim um espectáculo e dos bem tristes.
Honra seja feita à Alemanha que, talvez pela sua própria circunstancia histórica, bem cedo percebeu que não podem existir cotas para a tragédia.


Citação. Agostinho da Silva.
"Os felizes passam na vida como viajantes de trem que levassem toda a viagem dormindo; só gozam o trajecto  os que se mantêm bem despertos para entenderem as duas coisas fundamentais do mundo: a implacabilidade, a cegueira, a inflexibilidade das leis mecânicas, que são bem as representantes do Fado, e cuja grandeza verdadeira só se pode sentir no desastre; é quando a catástrofe chega  que a fatalidade se mede em tudo o que tem de divino, e foi pena que não fosse esta a ligação essencial que tivéssemos tirado da tragédia grega; como pena foi que só tivéssemos olhado o fatalismo dos árabes pelo seu lado superficial.
Se, porém,  por  um lado, me parece que o desejo de felicidade só pode levar alguém, quando sozinho às delicias da televisão, e, quando em grupo, às ingenuidades de escandinavos ou americanos, isto é, à infelicidade, e à pior das infelicidades, que é aquela que se não entende e leva ao suicídio, sem que se saiba porquê, é seguro, por outro lado, que não tem valor de eternidade toda aquela desgraça que, vinda por mãos de homens, por mãos de homens poderia ter sido evitada. Quero eu dizer o seguinte: que muito erram os que julgam que pode haver Cruz que não seja puramente histórica e como tal passageira nas infelicidades que infligem os maus regimes políticos ou as deficientes organizações económicas.
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A fome  é valiosa para que o individuo se realize quando é fome de aviador perdido no deserto, ou fome do que a tem porque não larga o seu posto, ou a que vem de uma pura calamidade física; supor que liberta alguém a fome que actualmente se sofre no mundo porque se teima em fazer sobreviver um regime económico, o do capitalismo, que a evolução das técnicas inteiramente superou, é pensamento que só pode surgir em mentes doentias cujo gosto é a tortura dos outros. Há ainda muita gente que supõe que ser-se pobre involuntariamente, isto é,  serem os outros pobres, não nós, vale alguma coisa para o apuramento espiritual: e o mais triste é que se encontre grande parte dessa gente em meios que se consideram  religiosos; tanto é verdade que as grandes doutrinas, mal entendidas, podem dar a mais terrível das impiedades."


Inquietação.
Será que o homem ( o único animal que mata por prazer) acabará por se matar a si mesmo?
Se sim, vai no caminho certo!