quinta-feira, abril 07, 2005

Depressa para Lado Nenhum (1)

Ao principio o homem não era nada. Lutava com a natureza à procura de espaço, ganhando umas vezes, perdendo outras, sem rumo certo, ao sabor do movimento tentacular que o rodeava. Ia para leste porque aí havia caça, dormia dentro da saliência rochosa porque fazia menos frio, comia o que encontrava. Aprendeu tudo sem mestre à conta da experiência e de uma luta persistente contra tudo e contra todos. Contra os inimigos, mas também contra os amigos que não sabia que o eram. Sem entender muito bem as coisas o instinto de sobrevivência era o mentor de toda a actividade gerida de forma primária: aceitava umas coisas, outras por temor reverenciava-as, enquanto destruia outras que não entendia (só muito mais tarde a sua qualidade de ser superior lhe permitiu passar a destruir mesmo as que entendia, servindo para o efeito qualquer pretexto).
Nos primeiros tempos era um ser frágil à mercê do ambiente que o rodeava, mas percebeu bem cedo e à própria custa que só pela força não iria longe. Pigmeu entre gigantes teve necessidade de desenvolver as artimanhas que lhe permitissem equilibrar as forças num tempo em que tudo se resumia a uma só coisa – sobreviver.
Permanentemente de rastos com o chão por horizonte e a própria sombra como meta que hipóteses de competir?
A constactação desta realidade levou-o à primeira de muitas e longas aprendizagens: tinha que se libertar do chão, aumentar a visibilidade e ver para além de si. Esta coisa aparentemente tão simples foi talvez o esforço mais titânico de todos os que teve de fazer na sua aprendizagem lenta de milhões de anos, primeiro até conseguir equilibrar-se sobre dois membros, depois equilibrar-se dentro de si, apesar de em relação ao último ainda hoje subsistirem sérias dúvidas sobre se foi conseguido.
O homem em pé foi uma das primeiras maravilhas de si mesmo. Seguiram-se muitas outras, mas infelizmente para o homem e não só a maior parte nunca conseguiu sair de dentro da sua cabeça.
Antes de começar a correr, o que aconteceu há relativamente pouco tempo, o homem avançou passo a passo e manteve um equilibrio com um enorme respeito por tudo o que o rodeava. Se destruia algumas coisas que não entendia isso era ocasional porque quase sempre abatia árvores para construir abrigos ou matava animais para se alimentar.
O respeito era um valor inquestionável num mundo em construção.
O equilibrio e o respeito existiam interioizados como códigos de honra e eram cumpridos como se se tratasse das leis mais rigidas, mesmo sem as leis que obrigassem a fazê-lo.
Avançava num processo orientado para o bem estar, mas ainda e só para construir defesas cada vez mais eficazes em relação ao ambiente hostil que o rodeava.
Por circunstâncias diversas (ainda hoje não totalmente esclarecidas) o homem descobriu-se um dia à frente de tudo e de todos. A constactação desse facto deu inicio a um novo processo ainda não terminado que lhe transmitiu a certeza interior de que podia fazer tudo o que quisesse.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O mesmo se passa nos Centros de Atendimento... é sempre a correr!!!

9:06 da manhã

 

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