sábado, abril 09, 2005

Tempos de Fé

Hoje todo o mundo católico (e não só) está suspenso das cerimónias fúnebres do Papa João Paulo II.
Sobre isto já tudo foi dito.
Por isso, neste tempo de justificada exaltação religiosa, falemos nos outros, que também os há.
Não na certeza (fé) dos que têm a certeza que não têm fé, mas na angústia dos que querendo acreditar são incapazes de o fazer.
Lembremos Camus em “A Peste”:
“A salvação do homem é uma palavra demasiado grande para mim. Não vou tão longe. É a sua saúde que me interessa. A sua saúde antes de mais. E mais precisamente: não sei o que me espera nem o que virá depois disto. De momento, há doentes, é preciso curá-los... Uma vez que a ordem do mundo é regulada pela morte, talvez seja melhor para Deus que não se acredite n’Ele e que se lute com todas as forças contra a morte sem levantar os olhos para o Céu, onde Ele se cala”
Albert Camus morreu num desastre de automóvel no dia 4 de Janeiro de 1960 a caminho de Paris.
Quando o encontraram repousava meio enfiado na mala traseira do carro com ar calmo e como que admirado, os olhos ligeiramente saídos das órbitas e um pouco de sangue escorrendo da nuca.
Nos bolsos encontraram um bilhete de comboio para Paris para esse mesmo dia.
Se pudesse Camus teria dito que ele e só ele fora o culpado da sua morte!