quinta-feira, agosto 18, 2005

As Presidenciais inevitáveis(?) na Democracia possível (?)

A mediatização é claramente o fenómeno mais marcante nesta transição do século, com tudo o que tem de bom e de mau, com muito do que já aprendemos, mas em especial com quase tudo o que ainda desconhecemos e só vamos aprender à nossa própria custa.
A mediatização é, por estes tempos, um manto gigantesco que cobre tudo e todos e muito em particular o chamado mundo politico, que a mais das vezes cobre de tons pouco claros.

Há muito tempo já que deixámos de votar em ideias e projectos e passámos a votar na auréola em torno da figuração mediática de cada candidato, sendo claro que, a partir de determinado momento, só conta mesmo o tamanho da auréola.
Tudo o mais passa ser irrelevante.

Pouco importa que os candidatos sejam as pessoas com mais responsabilidades do que aconteceu em Portugal no pós 25 de Abril (dito e aceite consensualmente), de algumas coisas boas (por exemplo, a liberdade) mas também os principais responsáveis do estado a que isto chegou.
Pouco importa o que cada um pensa sobre isto ou aquilo, que projectos concretos têm e como pensam colocá-los em prática (até porque a assumpção popular é a de que o que dizem não é o que fazem, quando fazem alguma coisa).
Pouco importa se existem outras pessoas válidas, com projectos e ideias muito melhores (e como conhecê-los e às suas ideias se só existe o que é mediatizado, sendo que depois da mediatização a auréola engole todas as ideias?).

A democracia ( governo do povo) passou há muito a significar outra coisa.
Porque queremos mudar (pouco) e sempre os outros (de preferência).
Porque aceitàmos substituir alternativa por alternância.
Porque antecipamos tudo de tal modo que o presente está sempre hipotecado em nome de um futuro que também já nasce hipotecado.
Porque a economia e o pragmatismo substituiram os ideais, sobrepondo-se como ditadores inquestionáveis, provocando golpes profundos na democracia.
Porque transformàmos cidadãos em simples consumidores sem capacidade de decisão.

Desiluda-se quem continuar a pensar que o voto é uma opção.
E muito menos uma arma.
Não fomos nós que escolhemos estes candidatos - foram eles (e a mediatização) que nos escolheram a nós, consumidores compulsivos até de democracia (mesmo que virtual!)

Os homens providenciais sempre me afligiram, mas é quase sempre aí que caímos e, uma vez mais, nos preparamos para eleger mais um salvador da pátria.
Aprenderemos algum dia que os salvadores de pátrias não existem?