quarta-feira, outubro 04, 2006

Sobre a Educação

A propósito do sempre presente debate sobre a educação, relembro José Gil no celebrado “Portugal Hoje – O Medo de Existir”:
“A normalização da sociedade portuguesa actual resulta da tensão, e consequente neutralização, destes dois pólos: o pólo disciplinar que perpetua velhos reflexos de obediência, suscitando subjectividades pré ou protomodernas, e o pólo de controlo, em que os mecanismos regulamentares decorrem directamente do funcionamento tecnológico dos serviços e as subjectividades correspondentes tornam-se, por assim dizer, dispositivos programados, como um elo da cadeia das novas tecnologias que controlam gestos, comportamentos, corpos, afectos. O biopoder das sociedades de controlo fabrica subjectividades pré-formatadas.”

Todos os debates honestos sobre educação (os que o forem efectivamente e não os que a utilizem para defesas corporativas ou quaisquer outros objectivos mais ou menos claros) são bem vindos.
Mas neste mundo inevitavelmente globalizado não será o tempo de ir mais longe e questionar mais fundo?
Porque em boa verdade acredito que não se trata já só de educação, mas muito mais de modelo social de desenvolvimento; por mais adequada que seja a educação, se o modelo a que se destina estiver errado, por mais correcta que seja, estará sempre profundamente errada na sua essência.

Ou Agostinho da Silva tem já definitivamente razão? “… Feita a primeira especialização se entrou numa carreira fatal. Há hoje quem esteja plenamente convencido de que nasceu mais engenheiro do que homem; como se já estivéssemos naquele tempo de pesadelo em que se fabricariam homens-máquinas de servir máquinas de servir homens-máquinas.”

Há hoje um mal endémico e transversal que condiciona a sociedade a todos os níveis: a cidadania, ou antes, a falta da mesma, muito em particular nas vertentes essenciais do respeito, da compreensão e da solidariedade.
Enquanto não se cumprir a cidadania tudo o resto será ineficiente e incompleto.
Mas como cumprir a cidadania se não existirem cidadãos?

A verdade é que todos os modelos de educação propostos nos últimos tempos enfermam do mesmo mal – deixaram de se preocupar com a educação e passaram a concentrar-se em exclusivo na formação para a competição.
Dito de outro modo – chegámos a um tempo em que a preocupação não é formar cidadãos, mas sim formatar indivíduos para o mercado do trabalho.

Discutamos a educação, mas uma educação no sentido do homem, uma educação que forme cidadãos respeitadores, compreensivos e solidários e não mercenários prontos a atropelarem-se uns aos outros em nome de um qualquer “sucesso”, seja a que preço for!