terça-feira, novembro 15, 2005

A Revolta Im(possível)

É sabido que o actual modelo de desenvolvimento é injusto, porque obedece a uma única lei – a do mais forte.
Sempre assim foi, dirão alguns. Talvez!
Mas só agora é possível conhecer em cada momento e cada vez com mais pormenores a grandeza dessa injustiça e a força dos mais fortes.

A mediatização e a globalização são duas realidades novas que na pressa dos dias cada um está a tentar cavalgar em benefício próprio esquecendo quase sempre que ambas são paus de dois bicos que podem dar muito, mas tirar ainda mais.
Continuamos convencidos que as franjas da opulência são suficientes para calar a turba que as rodeia, mas os guetos em torno das grandes cidades aí estão a provar o contrário.
Neste mundo em que quase tudo se sabe já muito poucos se contentam com migalhas - todos querem tudo. Mesmo que não quisessem os apelos consumistas aí estão em cada instante a entrar por nós dentro para nos lembrar disso mesmo.

Os actuais actos de violência em França não podem ser analisados sobre uma perspectiva simplista de perturbação da ordem pública.
Têm de ser enquadrados neste contexto global a que, para o bem e para o mal já não conseguimos escapar.
Porque esta mediatização globalizada, entre muitas outras coisas, também pode ser um rastilho incontrolável como aconteceu neste caso.

É óbvio que é fundamental manter a autoridade do estado, não respondendo à violência com violência, mas sendo intransigente.
Porque, apesar de tudo, é imprescindível acautelar um modelo organizativo que pode ter muitos defeitos, mas que é ainda é o mais equilibrado possível.
Mas também é fundamental e imprescindível que se busquem as causas mais profundas neste mundo assimétrico, criador de muita riqueza e grandes avanços na medicina, mas também de muita miséria, fome e exclusão social; um mundo onde infelizmente muitas das coisas boas se constroem à custa e em cima das más, aquelas mesmas que servem de bandeira à sua prossecução.