quinta-feira, março 22, 2007

Os Justiceiros

a propósito da visão do senhor ministro (que agradecemos)na aplicação e cumprimento da futura lei do tabaco

Confrontado com a questão do cumprimento da futura lei do tabaco, o senhor ministro respondeu com mais uma tirada de politiquez, do mais puro (e perigoso) que pode haver – os cidadãos não fumadores se encarregarão de zelar pelo cumprimento da lei!
Aliás no seguimento e na mesma lógica da que teve em relação às taxas moderadoras, quando disse que quem pode comprar um maço de tabaco também pode pagar o aumento das taxas moderadoras.
Confirma-se assim que o que parecia ser apenas uma ideia menos conseguida, fazia já parte de uma doutrina mais profunda, cujo objectivo último é o da devolução do poder ao povo – um povo de justiceiros onde cada um vigia o vizinho do lado… e vice-versa.
E apesar dos perigos é claro que se trata de uma medida meritória, porque quando o modelo estiver consolidado teremos resolvido alguns dos nossos principais problemas a começar pelo zelo no cumprimento da lei e pelas forças de segurança com reduções de custos significativas.
Enquanto bombeiro eis um muito bom incendiário!
Mas não desesperemos!
No futuro, este pode ser o caminho da salvação: uma sociedade com pleno sentido de cidadania a governar-se a si mesma.
É a anarquia dirão alguns.
A salvação, digo eu, porque nesse instante todos passam a estar dispensados, a começar pelos políticos eles mesmos!

quarta-feira, março 21, 2007

Rusga ao Amor

um poema no dia da poesia, ou como em nome do amor são possíveis tantas barbaridades…

o homem afirma que tudo o que faz é em nome da felicidade e do bem estar da comunidade, no entanto a mais das vezes
faz precisamente o contrário, destruindo tudo à sua volta, quantas vezes o próprio homem... este poema retracta de forma cruel essa mesma forma de procurar o amor...

chama-se Rusga ao Amor e foi publicado no meu blog no dia da poesia de 2007...

RUSGA AO AMOR

Busco-te
Ao amanhecer de cada dia
Faça sol, faça chuva ou ventania
Nos recantos
E à saída do meu quarto ainda endormecido
Ou à janela que abro sobre mim para o dia
Busco-te em perseguição
Corro muito
Por dentro dos punhos fechados
Não deviam existir punhos cerrados
Nas mãos com as veias esventradas
Para que se lhes visse a hemoglobina
Do ódio, da falsidade ou da verdade
Busco-te
Ao longe e ao perto
Quando não posso chegar-me à beira de um homem
Nos pios tristes pesados de um mocho
Ou num olhar aberto
Mas fechado, enquanto o amor andar de roxo
Busca-o
Nas palavras de justificação
Nos gestos que as acompanham inconsequentes
Em jantares e reuniões de confraternização
Com muitas mesas e convidados
E na fome de muitas crianças
Feitas de pele e de osso e de um coração
Busca-o
Na cidade, na aldeia
Ou quando olhas a praia
Pejada de corpos subjacentes
Nos areais da abundância
Busca-o
Num corpo nu de mulher
Que possui por entre os minutos apressados
De um instante demasiado pequeno
Sem fundo e descontinuado
Ou então
Numa mãe que chora abraçada a uma dor que chora
Num homem que parte de noite
E deixa a mulher descomposta
No leito de uma relação quebrada
A pedir-lhe a sua presença nocturna
Que a acoite pelo menos como outrora
Buscámo-lo
Entre uma mão estendida com cinco ossos na ponta
E uma outra insensível e caída
Nos recortes e nas notícias da guerra
Nas carícias provisórias
De uma mulher provisória e sem terra
Na alma rebentada de um piloto
Que não metralha a aldeia desprotegida e abandonada
Buscai-lo
E buscam-no todos
De metralhadoras na mão
Baionetas afiladas a ameaçarem as esquinas
Eu diria:
NÃO!
NÃO SAIAM PARA A RUA AO ENCONTRÃO
DEPONHAM AS ARMAS E O INTERESSE E AS SINAS
FIQUEMOS UM POUCO CONNOSCO
POR DENTRO DAS AVENIDAS DO CORAÇÃO
O AMOR FAZ-SE PELA NOSSA MÃO!