A Tolerância Intolerante
Diz um:
Dei um enxerto de
porrada na minha mulher. Achas que vou ter problemas?
Responde o outro:
A tua mulher não andou enrolada com o padeiro?
Afirma o primeiro:
Andou e durante muito tempo.
Remata o segundo:
Então não há problema. Uma mão lava a outra.
Seria humor negro se se tratasse de um quadro de um espetáculo de escárnio e mal dizer.
Mas é mesmo só negro porque se trata da caricatura de um pedaço dos termos de um acórdão judicial sobre violência doméstica.
Um acórdão cheio de falsos moralismos, de citações bíblicas e referencias ao código penal de 1886
A ideia é tão obtusa que não encontro adjectivos suficientemente fortes para caracterizar a obtusidade do seu autor.
É assim como se a justiça fosse uma espécie de conta corrente.
Mataste o teu pai?
Não faz mal. Já tinhas salvo a tua mãe de morrer afogada.
E se assim é dispensemos os doutos juízes.
Que sejam substituídos por competentes guarda-livros que farão por certo uma transparente e meticulosa leitura de dados.
Para sempre digamos não à tolerância intolerável!