quarta-feira, janeiro 10, 2007

A Arrogância do Poder

a propósito do poder da comunicação e da força quando usados de forma indiscriminada ou orientada num único sentido, o que, como bem sabemos é muitas vezes a mesma coisa

Se há noticias que são sinais, dos últimos dias ficam duas que são faróis incandescentes nesta escuridão muito iluminada que nos envolve.
A primeira diz que já morreram sete crianças ao tentarem imitar o enforcamento de Sadam Hussein e a segunda que os Estados Unidos bombardearam uma aldeia na Somália para supostamente aniquilar seguidores de Bin Laden, com elevados “danos colaterais”.
Aparentemente diferentes, (uma remete para o espectáculo e outra para o uso indiscriminado da força), são na verdade faces da mesma moeda: a arrogância nas suas formas mais incisivas, a do poder e a da força.

Poder porque comunicação hoje é poder à solta, usado de forma indiscriminada, com uma única regra – a das audiências.
A mediatização é uma máquina trituradora, não disto ou daquilo, mas de todas as coisas que sirvam para a alimentar. Sem ética, valores ou regras!
Quando se faz passar de forma intermitente pelos olhos de uma criança a realidade e a fantasia num contínuo indissociável como fazê-la perceber depois o que é cada uma?

Força porque à semelhança do que sempre aconteceu desde que o homem o é, quem manda é quem detém a força e quem a detém usa-a de forma indiscriminada, ao sabor dos seus interesses, indiferente ao sofrimento ou à dor daqueles que atinge, tão só porque os atinge sempre em nome dos mais elevados valores, para cuja prossecução tudo é permitido.
Quando se ataca uma aldeia matando dezenas de civis cuja única culpa foi estarem no local errado na hora errada em que é que esta acção é diferente de quaisquer outros usos indiscriminados da força?
O que legitima o uso desta força a não ser a força ela mesma?

A necessidade de justificação é para o homem causa de muitas angústias, mas a capacidade de auto-justificação que daí advém, transforma com demasiada facilidade a angústia em tragédia.
A verdade é que o homem tem uma capacidade infinita de se auto-justificar e em nome dessa capacidade todas as barbaridades são não só possíveis como passíveis de se transformarem em boas acções!

10 de Janeiro 2007