quarta-feira, agosto 12, 2009

A (in)volução, a Honra e Outras Coisas Afins

…ou como foi possível trocar tantas coisas por uma mão cheia de nada!

A circunstância nem sequer era relevante; não mais que um simples jogo de bilhar.
Na jogada final um dos jogadores incorre em falta que ninguém vê a não ser o próprio.
Quando pela primeira vez lhe dão os parabéns diz que não são para ele porque não foi ele que ganhou. Não obtém resposta e nesse instante percebe que ninguém viu a falta.
Muda imediatamente de postura e assume-se como vencedor.
Muito simples e muito elucidativo.
O tempo é de ganhar.
A todo o custo.
Com regras se não puder ser de outro modo.
Sem quaisquer regras se puder ser!

Estamos num tempo em que a cada instante a ficção se transforma em realidade. Nunca como hoje houve tantas condições para que o homem se realizasse. E nem sequer falo de buscas interiores de procura da felicidade, mas tão só do que é material, comezinho e imediato. E essa é a grande tragédia, porque mesmo naquilo em que aparentemente as coisas poderiam ser mais simples nem aí o homem pôde aproveitar as condições únicas que o progresso colocou ao seu dispor.
Coisa muito diferente do facto de alguns homens (se) aproveitarem (de) tudo em nome de todos, o que, como bem sabemos, é hoje a única forma de solidariedade universalmente reconhecida.

Há hoje coisas remetidas para uma espécie de arquivo morto que quando enunciadas são já só entendidas como meros exercícios de retórica, por exemplo, o compromisso de honra.
Mas este foi exactamente o grande passo atrás, aquele que aconteceu quando deixámos de ser cumpridores voluntários de compromissos de honra e nos transformámos em compulsivos cumpridores de leis.