quarta-feira, abril 20, 2011

Us Ispecialistas ... Outra vez!

… mesmo assumindo que a memória é curta, às vezes é curta de mais…

Hoje para onde quer que nos voltemos aí estão eles de volta - “us ispecialistas”.
É verdade que alguns andaram sempre por aí, mas muitos tinham voltado à jarra.
Mas agora… é a crise, é a “bendita” crise e “eis-us” de volta.
Com mais ou menos conhecimentos, maior ou menor capacidade de imaginação, para onde quer que nos viremos há sempre um “ispecialista” a explicar o óbvio, utilizando os lugares comuns do costume.
O que digamos até é um mal menor, porque o pior mesmo é quando tentam “vender” a poção mágica, a sua, a única, a verdadeira (quando havia o hábito dos propagandistas de feira, havia um muito conhecido que de cinco em cinco minutos repetia : “comprem senhoras comprem… a minha banha de cobra é autêntica… comprem senhoras comprem…”)
E porque será que com todo este ruído de fundo a única imagem que a minha mente consegue divisar é a de um bando de abutres a pairar sobre a presa, com mil e um cuidados para que não morra, é verdade, mas sem a abandonar um instante que seja?

segunda-feira, abril 18, 2011

EKTOM (1 - A Aldeia Interior)

Ektom é a aldeia interior que existe na imaginação de cada um de nós. Tem mil seiscentos e vinte e sete habitantes e está situada num planalto rodeado por montanhas. A parte destinada a habitação fica num pequeno morro, sobranceiro a um vale fértil e verdejante, onde é desenvolvida toda a actividade agrícola. Os habitantes da aldeia dividem-se em dois grupos, os que, no Vale, se dedicam ao cultivo da terra e à pastorícia e os que, no Centro, desenvolvem uma actividade de arte/industria.

É uma verdade absoluta que tudo o que existe se reduz às dimensões de Ektom.

Todas as actividades são superintendidas pelo Conselho de Aldeia, composto por todos os homens e mulheres com mais de duzentos anos. Pelo Centro são canalizados todos os bens existentes e é dada satisfação a todas as necessidades. Os membros do Conselho não são eleitos nem nomeados; no dia em que completam duzentos anos todos passam a pertencer ao Conselho. E todos no sentido literal do termo, porque os Ektomianos vivem todos duzentos e setenta e três anos, até de anularem num processo que não entendem muito bem, mas que não precisam de entender, porque em Ektom cada coisa é o que é e nada mais.

A base da organização social é a liberdade. A liberdade total!O principal elemento de união entre as pessoas é a inexistência de qualquer compromisso.

Foi entendido há já muito tempo que as leis pouco espaço deixavam para o homem se poder movimentar e que mais não faziam que obrigá-lo a correr atrás de si mesmo num circulo fechado, cujos limites eram as leis por si mesmo criadas. Os ektomianos transpuseram há muito essa barreira e as únicas limitações são as que cada um impõe a si mesmo. A vida em Ektom não é de, nem para. É! As coisas acontecem porque têm que acontecer. Há muito tempo já que foram eliminadas a fome e a doença. Até concluir o ciclo de vida, tudo é sempre igual. Ninguém se interroga e cada coisa é o que é, esgotando-se em si mesma. O único mistério é não existir mistério algum. Ou quase...

Quando as nuvens cruzam lentamente os céus com as suas formas misteriosas, é natural que alguns se interroguem e cedam à tentação da dúvida; mas são sempre interrogações e dúvidas passageiras, alheamentos de imediato ultrapassados pela realidade. O que pode desejar quem tudo tem? A vida é sempre igual em cada momento que passa, cada tempo é o tempo todo, cada acto todos os actos numa monotonia envolvente e repetitiva. Ektom é a realização de todos os anseios do homem em busca da perfeição para a qual só falta a imortalidade, mas quem é que quer a imortalidade? Para quê? Um dia um jovem tentou saber o que existia antes de Ektom e o embaraço foi total. Não porque os Mais Velhos não soubessem responder, mas porque a questão não existia. Como se explica o branco? O branco é o branco e nada mais. Em Ektom tudo é absorvido e naturalmente transformado em realidade. Quando acontece algo é porque chegou a hora de acontecer. Cada coisa é o que é e nada mais.

O resto é o que acontece!