sexta-feira, janeiro 29, 2010

E Você ainda não é Excelente?

...então...suicide-se!

Estamos no tempo da excelência!
Para onde quer que olhemos encontramos sempre as três palavras mágicas: objectivos, níveis de serviço, excelência, que o mesmo é dizer, a solução de todos os nossos males!
Quatro ideias.
Primeira Ideia.Num curto espaço de tempo passámos duma situação de total amorfismo para uma outra em que não nos coibimos de fazer valer os nosso direitos, nunca como hoje tão protegidos legalmente.
E isto é inequivocamente bom.
Dito isto olhemos mais de perto.
O facto de isto ser verdade (muitas vezes por excesso!) faz com que do outro lado se procure servir cada vez melhor, sem excepções (quer dizer tão bem na operação ao coração como a desencravar a unha!).
Até aqui tudo bem! Tudo bem?
Passemos à segunda ideia e espreitemos por detrás da coisa.
Segunda Ideia.Em todos os sítios onde vislumbramos as palavras mágicas sempre nos dizem que tudo é feito em nome das pessoas, do seu bem estar e da sua felicidade.
Mas em todos os sítios onde as palavras mágicas são praticadas encontramos pessoas (demasiadas pessoas) maioritariamente mal dispostas e infelizes.
Porque esta excelência buscada em nome das pessoas é, a mais das vezes, conseguida à custa dessas mesmas pessoas, conseguida com excesso de trabalho, com trabalho precário, mal pago e sem regalias.
Pode ser excelente, mas não deixa de ser um excelente paradoxo porque induz a produzir cada vez mais a custos cada vez mais baixos. Quem sobra para adquirir os produtos?
Terceira Ideia.O homem e a máquina estão em caminhos cruzados que ainda não sabemos bem onde nos conduzirão.
Do homem queremos que seja cada vez mais uma máquina, competente, infalível e excelente.
Da máquina queremos inteligência , instinto sensorial, humanismo.
E é quase obrigatório voltar a Agostinho da Silva:
“…há hoje quem esteja plenamente convencido que nasceu mais engenheiro que homem; como se já estivéssemos naquele tempo de pesadelo em que se fabricariam homens máquinas de servir máquinas de servir homens máquinas. E não julguemos que nos vamos libertar desta condição de especialistas apenas pela própria fatalidade do desenvolvimento científico e técnico. A chuva é fatal, mas o guarda-chuva não é fatal…”
Última Ideia.Estamos a construir um mundo onde os menos competentes são mal tolerados, os incompetentes são lixo e os diferentes quanto mais escondidos melhor!
E no entanto ai! de quem a não siga, à excelência, porque esse está condenado a ser esmagado por esta maravilhosa máquina da felicidade que de forma tão abnegada distribui tanta … injustiça, corrupção, insensibilidade e perigo, ou seja, tudo aquilo em que o escol de excelentes que nos comanda conseguiu transformar o mundo!
Quem lhes deu este direito?

sexta-feira, janeiro 15, 2010

HAITI

...ou quando tudo é insuficiente...

Por maior que seja a solidariedade em torno do Haiti (e aparentemente está a ser muita), será sempre insuficiente.
Por mais palavras que se digam (e estão a ser ditas muitas) nunca haverá palavras suficientes.
Porque não há retorno para os mortos, porque há estados de alma que jamais serão esquecidos, porque há vidas que jamais poderão ser as mesmas.

terça-feira, janeiro 05, 2010

A Celebração

...é já só celebração da celebração?...

Dia um de Janeiro de Dois Mil e Dez. Zero horas.
Espreito a minha rua e, através da televisão, todas as outras ruas e percebo que há um mundo inteiro a celebrar.
Com champanhe, fogo de artificio, muito fogo de artificio, risos, abraços e promessas, muitas promessas a propósito de tudo e de nada.
É fundamental festejar.
Mas festejar o quê?
Para tantos festejarem ao mesmo tempo, uma boa razão deve haver...
Tento encontrá-la.
Procuro desesperadamente avivar a minha memória… mas, não… não encontro um único motivo para celebrar o que quer que seja, nada que mereça sequer ser relembrado, quanto mais festejado.
E no entanto todos celebramos!
Não seria difícil encontrar uns quantos argumentos sócio-psicanalíticos, tipo, esperança que os desejos se transformem em realidade, para esquecer, por magnetismo social, etc., etc, e, no entanto, a explicação pode ser bem mais simples.
Cumprimos um ritual!
Fazemos tão só o que deve ser feito para estarmos de acordo com os ditames deste sacrossanto sistema que nos governa:
Primeiro celebramos, depois logo se vê se há alguma coisa para celebrar!